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*Por David Z. Morris

Os repórteres do CoinDesk Danny Nelson e Tracy Wang divulgaram na semana passada uma reportagem bombástica que pode manchar a reputação de todo o ecossistema Solana (SOL). Mais do que isso, a matéria estonteante mostra sérias vulnerabilidades sociais no setor de desenvolvimento e investimento em blockchains e cripto.

No centro da história está uma rede de 11 desenvolvedores que colaboraram em uma complexa rede de serviços financeiros descentralizados (DeFi) baseados em uma exchange de stablecoins da Solana chamada Sabre. Esses “profissionais”, com nomes como Surya Khosla, Larry Jarry, 0xGhostchain e Goki Rajesh, conseguiram criar serviços de trading e staking (processo de renda passiva) que atraíram US$ 7,5 bilhões em depósitos – ou valor total bloqueado (TVL, em inglês).

Nelson e Wang descobriram, no entanto, que esses desenvolvedores não eram pessoas reais. Em vez disso, eles eram pseudônimos de apenas dois homens, os irmãos Dylan e Ian Macalinao. Os repórteres do CoinDesk tiveram acesso a um post de blog que foi escrito por Ian Macalinao como uma aparente confissão do golpe. A postagem nunca foi publicada.

Esses US$ 7,5 bilhões em depósitos compuseram a maior parte de todo o dinheiro contabilizado nos serviços da Solana no segundo semestre de 2021, quando os depósitos DeFi da rede totalizaram aproximadamente US$ 10,5 bilhões. O TVL é frequentemente considerado uma medida de sucesso para serviços ou plataformas de smart contracts (contratos inteligentes). Os depósitos consideráveis na Solana, portanto, ajudaram a reforçar a alegação de que a rede é uma concorrente promissora da blockchain Ethereum (ETH).

Essa narrativa, por sua vez, teve um papel substancial na valorização do token SOL, que pulou de US$ 40 em julho de 2021 para um pico de US$ 259 em novembro daquele mesmo ano. Uma parte significativa da história otimista da Solana, portanto, agora parece ter sido baseada em uma série de mentiras.

Anônimos

As “personas” dos desenvolvedores não eram a única coisa falsa. A operação dos irmãos Macalinao com a plataforma Sabre foi aparentemente realizada com intenção explicitamente enganosa: “Eu criei um esquema para maximizar o TVL da Solana: eu construiria protocolos que se empilhavam uns sobre os outros, de modo que um dólar pudesse ser contado várias vezes”, Ian Macalinao escreveu no post do blog, que não foi publicado.

Embora ainda haja muita coisa desconhecida, o que é mais impressionante sobre o esquema é que não está claro que seu objetivo era o roubo. Os irmãos Macalinao não parecem, por exemplo, ter usado seu enxame de identidades falsas como uma proteção ao manipular os fundos dos usuários, como é muito comum nesses cenários (embora, novamente, essa história ainda esteja em desenvolvimento).

A maior parcela de danos aos usuários do ecossistema de serviços do Sabre parece ter resultado do hack de um aplicativo chamado Cashio, aparentemente criado pelos irmãos Macalinao. Além disso, os usuários aparentemente foram abandonados, com os irmãos anunciando que estão mudando o foco para novos projetos na blockchain Aptos.

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Falha nas estatísticas

O caso impressionante destaca pelo menos duas vulnerabilidades específicas sérias nos ecossistemas DeFi e de criptoativos, e algumas questões espinhosas muito maiores. Primeiro, reacende a questão sobre o anonimato de desenvolvedores anônimos do mercado. O fundador do Bitcoin, Satoshi Nakamoto, permanece sob pseudônimo, e há muitas boas razões pelas quais desenvolvedores de blockchain podem querer proteger seus nomes reais.

Mas essa norma também aumenta o risco de um ambiente de alta velocidade e risco. Mesmo um pseudônimo pode ser confiável se for uma entidade conhecida com seu próprio histórico, mas é claro que o padrão não está sendo seguido consistentemente pelos especuladores de DeFi. Como mostram as reportagens de Nelson e Wang, os irmãos Macalinao conseguiram reforçar a reputação de suas várias identidades simplesmente orquestrando conversas falsas no Twitter e fazendo com que trocassem endossos.

A segunda questão discreta é o uso de TVL, ou valor total bloqueado, como uma métrica-chave no DeFi. Toda essa história mostra que a métrica pode ser manipulada tecnicamente – neste caso contando ativos digitais várias vezes em serviços que parecem distintos, mas não são. Isso pode ser corrigido, pois o principal serviço de dados sobre DeFi, o DefiLlama, está fazendo alterações para evitar tentativas semelhantes.

Mas há uma questão mais ampla e complexa que será muito mais difícil de resolver. O que a história da plataforma Sabre revela é que um punhado de pessoas com intenções desonestas podem distorcer profundamente os mercados de criptomoedas. O esquema dos irmãos Macalinao criou enormes sinais falsos sobre o valor da Solana, que ainda é um dos 10 principais ativos digitais no momento.

“Acredito que (a história fake) contribuiu para a dramática ascensão da SOL”, escreveu Ian Macalinao sobre o token no post não publicado. (Pessoalmente, mergulhei meus dedos na SOL ano passado passado, mas depois de ver muitas pausas de cadeia, vendi minha posição por uma perda e não mantenho mais a cripto.)

Vimos falhas e enganos ainda mais preocupantes nos últimos meses de empresas como o ecossistema Terra, o fundo de hedge cripto Three Arrows Capital (3AC) e o credor centralizado Celsius Network. Mas no caso dos irmãos as operações são genuinamente extensas e apoiadas por grandes esforços de mensagens e pela aparência de seriedade.

O fato de dois jovens de vinte e poucos anos no Texas conseguirem manipular o mercado com perfis falsos no Twitter deve ser um lembrete ainda mais forte dos enormes riscos que parecem, pelo menos por enquanto, inerentes ao setor cripto.

*David Z. Morris é colunista-chefe do CoinDesk.

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Fonte

www.infomoney.com.br

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