A história da Hix e os atuais diferenciais da gestora derivam da experiência e trajetória dos irmãos Gustavo e o Rodrigo Heilberg. Eles foram os entrevistados do episódio 51 do podcast Outliers, apresentado por Samuel Ponsoni, gestor de fundos da família Selection na XP, e Carol Oliveira, coordenadora de análise de fundos da XP.
Começando por 2006, ano em que os irmão Heilberg passaram por um processo de grande aprendizado: a profissionalização da empresa da família, o Grupo Scalina. Em 2010, o controle da companhia foi vendido para o Carlyle, um dos mais conhecidos fundos de private equity, começando assim, com maestria, no mundo de investimentos em empresas não negociadas na Bolsa.
Já em relação ao mercado de public equities, ou seja, empresas listadas e negociadas em Bolsa, a história dos irmãos começa com a criação de um clube de ações um pouco antes, em 2005, que evoluiu para a fundação da Hix em 2012, uma gestora focada apenas em investimentos em ações – seja via public ou private equity. Atualmente possuem em torno de R$ 2 bilhões sob gestão. Os sócios fundadores fazem parte de um grupo de mais de vinte pessoas, sendo a equipe de investimentos composta por sete analistas e dos dois estagiários.
O processo de seleção de ações passa por um analista apresentando sua tese de investimentos no comitê para o time de investimentos. O grande foco são empresas que possuem ampla capacidade de gerar caixa e altos lucros. Não buscam retornos nas pequenas arbitragens, como ilustra o gestor: “Comprar Itaú a oito vezes o lucro, mas valendo dez. Se você acertar a hora certa, tem um lucro de 20%. É positivo se ocorrer num mês, mas se demorar dois três anos para corrigir, não fez efeito”.
Os fundos geralmente investem em dez a 15 empresas. Em média, 50% do patrimônio fica concentrado em torno de quatro a cinco principais teses de investimentos.
Onde estão as melhores oportunidades em ações no momento?
No atual cenário, a Hix prefere ações defensivas, que não precisem de um crescimento econômico forte para ter bom desempenho, como a Hapvida, empresa do setor de saúde com ampla capacidade de repassar preço em ambientes diversos. Na outra ponta, dada a alta de juros recente, são penalizadas as companhias que têm uma alavancagem maior e que vão pagar uma taxa de juros ou uma despesa financeira muito alta.
Outros setores que se destacam na visão dos gestores são infraestrutura, representada no portfólio pela Eneva, a Light e e a Orizon; e agronegócio, com alocação do portfólio em Boa Safra. Eles enxergam o setor agro como privilegiado no Brasil, pois tem uma correlação positiva com a desvalorização da moeda, tem ganhado cada vez mais espaço no PIB brasileiro e possui uma adoção já razoável de tecnologia, resultando em um setor cuja diferença produtividade, quando comparada aos demais países desenvolvidos é menor.
“Cuidado com o filme dos IPOs, normalmente não termina bem. Fizemos uma análise mostrando o que foi retorno deles entre de 2004 e 2007, considerando dez anos à frente: um terço implodia completamente, um terço era um retorno ruim e e um terço eram retornos bons, ou seja, e a média foi muito ruim”, disse Rodrigo Heilberg.
Ainda de acordo com Rodrigo, um dos principais motivos desses piores retornos dos IPOs é a assimetria de informações. O IPO – do inglês Initial Public Offer – é um processo no qual a empresa fechada vende parte das suas ações e passa a ser negociada em uma bolsa de valores. Dessa forma, Rodrigo reforça que a equipe de análise tem acesso a poucas informações, na comparação com os dados disponíveis sobre empresas já públicas. Em um IPO, há normalmente uma prazo de duas a três semanas para estudar o caso, tempo limitado para realmente entender o valor do negócio e decidir participar ou não da oferta.
Ainda sobre a série de IPOs recentes, os gestores da Hix acreditam que um dos seus maiores erros foi ter entrado em mais ofertas do que deveriam. No entanto, a conclusão e resolução sobre a entrada ou não em um IPO não é óbvia, pois existem excelentes cases de empresas que foram um verdadeiro sucesso pós-IPO. Além disso, eles ilustram que no mercado americano as companhias que melhor performaram nos últimos cinco anos nem estavam nos principais índices. Ou seja, não é possível ignorar empresas que hoje são pequenas, mas tem um excelente potencial de desenvolvimento no futuro.
Os diferenciais de uma gestora que também investe em empresas fechadas
Uma das grandes sinergias de uma gestora que investe em empresas de capital aberto e fechado é o acesso a dados e informações que ajudam no processo de análise de ambas. Por exemplo, o fato de analisar uma empresa menor, que é fornecedora ou concorrente de uma maior já listada, faz com que o analista tenha uma visão e fontes alternativas mais amplas tanto do setor, quando das companhias individualmente.
O gestor explica que na Hix não buscam ou selecionam as empresas pelo seu valor de mercado, mas, sim, histórias que têm um potencial de crescimento de lucro em muitas vezes. Segundo ele, isso é mais provável em empresas menores do que nas mais consolidadas, mas não é uma regra absoluta – e isso não deveria impedir o investimento nas large caps.
Eles acreditam que muitos gestores do mercado não falam que investem em small caps porque têm receio de que, por terem menor volume de negociação, essas empresas limitem o patrimônio do seu fundo. Eles preferem não optar por esse caminho, continuando no melhor dos mundos.
O resultado é uma excelente relação de risco e retorno, sendo os retornos melhores que o índice de small caps, com uma volatilidade menor que a do Ibovespa, que agrega large caps.
A entrevista completa e os episódios anteriores podem ser conferidos por Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcasts. Além disso, o podcast estreou no formato de vídeo no canal da XP no Youtube.
Fonte
www.infomoney.com.br