Já está virando rotina. Por mais um trimestre, as ações da Alpargatas (ALPA4), dona da marca Havaianas, desabam na sessão pós-resultado, com a visão de números fracos e um cenário desafiador. Às 12h15 (horário de Brasília), os papéis caíam 17,49%, a R$ 9,72.
A companhia divulgou na véspera prejuízo líquido consolidado de R$ 21 milhões no quarto trimestre de 2022, revertendo a cifra positiva em R$ 303,1 milhões reportada no mesmo intervalo do ano anterior. Segundo a empresa, as bases não são comparáveis devido à aquisição de participação na Rothy’s e venda da Osklen, anunciadas no último trimestre de 2021.
No trimestre, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) recorrente da Alpargatas ficou em R$ 152,6 milhões, 15,2% menor na mesma base comparativa anual, com queda de 3 pontos porcentuais na margem. O recuo reflete a queda de volume no Brasil e ao aumento das despesas comerciais e de marketing, segundo o release de resultados. O Ebitda societário registrou R$ 47 milhões, queda de 72%.
Para o Bradesco BBI, no geral, os resultados da Alpargatas foram ruins. Nas operações brasileiras, a Alpargatas enfrentou mais um trimestre de queda de volumes, impactada principalmente pelo baixo desempenho do canal de supermercados, o que corrobora com a tese do banco de um mercado interno saturado, levando a um crescimento limitado de volumes.
Enquanto isso, os mercados internacionais foram negativamente impactados pelo segmento dos EUA, devido a alterações na sua estratégia de mix de canais, afetando tanto os volumes como os preços.
A XP também destaca resultados fracos, abaixo das suas estimativas que já eram conservadoras, devido a i) uma dinâmica de receita pressionada pelo cenário macroeconômico mais desafiador no Brasil, além de ajustes operacionais nas operações internacionais; ii) baixa de estoques no Brasil, EUA e China levando a uma pressão de rentabilidade em margem bruta; e iii) despesas com reestruturação no valor de R$ 49,3 milhões.
Já olhando para os pontos positivos do resultado, a XP avalia que o preço/mix no Brasil continuou sendo destaque, com uma alta de 17% na base anual, enquanto os resultados da Rothy’s apresentaram uma melhora sequencial, com aceleração do crescimento de vendas (+10%) e um Ebitda menos negativo (em -R$ 3 milhões).
Com isso, a empresa teve um crescimento de receita líquida consolidada de 3% ano a ano, com a Havaianas Brasil crescendo 2% e as operações internacionais em alta de 7%. Assim, o preço/mix do Brasil compensou uma dinâmica de volume fraca (-12%), enquanto os volumes internacionais cresceram 7%, com a operação de Ásia-Pacífico e EMEA (Europa, Oriente Médio e África ) compensando a fraqueza dos EUA e da China.
Por outro lado, olhando para a rentabilidade, a margem bruta veio pressionada, principalmente pelas baixas de estoque no Brasil e maiores despesas com centro de distribuição e armazenagem, enquanto o Ebitda consolidado foi de R$ 47 milhões (78% abaixo da projeção da XP e queda de 72% na base anual), impactado por efeitos pontuais de equalização dos estoques, reestruturação das operações internacionais e menor margem bruta do Brasil.
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Excluindo esses efeitos pontuais, o Ebitda consolidado foi de R$ 152,6 milhões (28% abaixo da projeção da XP e 15% de queda na base anual).
“Embora a companhia tenha divulgado algumas iniciativas para enfrentar os desafios operacionais e macroeconômicos, acreditamos que os efeitos positivos mais materiais devem ser vistos somente a partir do segundo trimestre”, apontam os analistas, lembrando ainda que a empresa anunciou a substituição de seu CFO pelo André Natal, “um executivo conceituado no mercado e com sólida experiência na condução de ganhos de eficiências operacionais”. A recomendação da XP para a ação segue neutra.
O JPMorgan, por sua vez, segue com recomendação overweight (exposição acima da média, equivalente à compra) para os ativos, mas aponta que os números foram fracos, prejudicados por 1) volumes fracos no Brasil (-12% anual), que levaram a uma menor alavancagem operacional, 2) encargos pontuais relacionados à provisão de perdas de estoque e 3) encargos de reestruturação, principalmente em operações internacionais.
Os analistas destacam que as expectativas dos investidores com quem falaram estavam no geral acima da projeção deles, justificando uma reação negativa do mercado. Contudo, ainda assim, os analistas acreditam que o 4T22 não trouxe à tona nenhuma questão estrutural para o case após uma série de resultados decepcionantes.
Os baixos volumes no Brasil refletem um processo de desestocagem à medida que o clima mais frio afetou o sell-out (vendas a consumidores finais de lojas próprias e franquias, principalmente em setembro e outubro), enquanto a empresa reportou ganhos de participação, inclusive no principal canal de varejo de alimentos (ou seja, nos supermercados).
Além disso, a margem bruta medíocre reflete a menor alavancagem operacional da manufatura com a menor produção no Brasil. Já os custos pontuais de reestruturação devem levar, mais para frente, a um 2023 um pouco mais claro em termos de perspectivas, que é quando se espera ver uma recuperação na margem.
“Dito isto, continuamos a ver a Alpargatas caminhando na direção certa ,com ajuste nas suas operações internacionais para extrair dela melhores resultados no médio prazo. Isso, somado a uma visão de marca mais saudável do que o esperado no Brasil mesmo diante do fraco 4T22, apoia nossa visão construtiva de médio prazo sobre a empresa”, avalia o JP.
O Bradesco BBI, por sua vez, está mais reticente. “No futuro, acreditamos que o difícil cenário competitivo nos EUA e em outros mercados internacionais ainda deva ser um vento contrário”, apontam os analistas.
Assim, no geral, mantém recomendação neutra com um preço-alvo de R$ 16 (potencial de valorização de 36%), também com base em ventos contrários provenientes do cenário sombrio para o consumo discricionário no Brasil e um ambiente competitivo acirrado nas operações internacionais. Os analistas veem as ações negociadas atualmente a múltiplos considerados justos.
Fonte
www.infomoney.com.br