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A prévia do índice de inflação oficial do Brasil de abril trouxe alívio temporário aos mercados e vai causar um impacto favorável para o IPCA do mês, mas há pressões disseminadas e um cenário externo desafiador à frente, apontam analistas.

O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) acelerou em abril e subiu 1,73%, a maior variação mensal para o indicador desde fevereiro de 2003 (2,19%) e a maior alta para abril desde 1995 (1,95%). Mas veio um pouco abaixo das expectativas, de alta de 1,85% segundo o consenso Refinitiv.

A XP afirma que “o desdobramento da inflação prévia traz um impacto favorável na projeção do IPCA da abril, principalmente em função da menor inflação de serviços”, e estima uma alta de 0,86% para o indicador, uma “desaceleração impulsionada principalmente pela deflação de energia elétrica” (devido ao fim da bandeira tarifária escassez hídrica).

Apesar disso, a XP mantém a projeção de inflação para o ano em 7,4% e ressalta que “pesquisas de inflação de alta frequência, as consequências dos lockdowns na China e os embargos contra a Rússia indicam pressões inflacionárias para os próximos meses”.

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Para o Goldman Sachs, “a inflação do IPCA-15 de abril foi alta, mas ligeiramente abaixo do esperado”, e destaca que “a inflação está agora não apenas muito alta, mas também altamente disseminada” (o banco estima que a inflação deve permanecer acima de 10% no acumulado em 12 meses até agosto).

“Espera-se que o choque amplo e provavelmente duradouro nos preços das commodities e outros custos de produção de logística/insumos mantenha as pressões inflacionárias dos preços ao consumidor no curto prazo altas, apenas parcialmente compensadas pelo declínio anunciado nas tarifas de eletricidade”, diz relatório do economista Alberto Ramos.

Ramos aponta também um risco crescente de inflação inercial, com repasses de preços e alta de salários devido a cláusulas de reajuste atreladas a índices de preços, e um “cenário desafiador”, que pode ser desencadeado pela sinalização do FOMC (o Copom do Fed, o Banco Central americano) de ser mais “hawkish” na alta de juros nos Estados Unidos (mais agressivo).

Expectativa de mais juros

Por isso, o analista do Goldman Sachs aponta que o cenário exige “uma calibração conservadora da política monetária” do Banco Central brasileiro.

O research do Morgan Stanley tem a mesma visão e diz que o IPCA-15 trouxe “más notícias” tanto no núcleo da inflação quanto na sua difusão. “O índice de difusão atingiu 78,75%, o maior nível em quase 20 anos, mostrando que as pressões globais estão se espalhando pelos preços domésticos”.

“Além disso, uma vez ajustados sazonalmente, a maioria das principais métricas aumentou em abril e está mostrando que mais aceleração ainda está por vir”, diz o documento assinado pelos economistas Thiago A. Machado e Andre Loes (isso mesmo com a adoção da bandeira tarifária verde, o que segundo o governo vai reduzir as contas de luz em cerca de 20%).

Os economistas do Morgan Stanley não acreditam que os números do IPCA-15 de abril vão mudar o “plano de voo” do BC, de aumentar a Selic em 1 ponto percentual na reunião de maio, e ponderam que “a aceleração do núcleo e da difusão torna difícil interromper o ciclo de alta nos próximos encontros”.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, diz que o IPCA-15 continua indicando uma elevada pressão inflacionária, apesar da surpresa baixista de abril. “Mesmo abaixo das expectativas, a divulgação não altera o cenário da inflação no ano o tom permanece negativo”.

Mercadante diz que a Rio Bravo ainda acredita que o BC terá que elevar a Selic além dos 12,75% ao ano pretendidos pelo presidente Roberto Campos Neto, “estendendo o ciclo até junho, para conter a inflação e as expectativas que continuaram a se elevar no último Focus”.

Desancoragem de expectativas

A taxa básica de juros da economia brasileira está atualmente em 11,75% ao ano, e o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) se reúne na próxima semana. A previsão é que a Selic vai subir em mais 1 ponto percentual; a dúvida é se será necessário ampliar o ciclo de alta dos juros para controlar a inflação (o que o Banco Central tem indicado não querer).

O Relatório Focus divulgado ontem pelo BC, após quase um mês de “apagão”, mostrou que o mercado já prevê que a inflação vai terminar o ano em 7,65% — mais que o dobro da meta, que é de 3,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual (ou seja: a meta será cumprida se o índice ficar entre 2% a 5%).

A mediana das projeções para o IPCA de 2022 avançou pela 15ª semana consecutiva, e o mercado também elevou as estimativas para 2023 e 2024 (para 4% e 3,2%, respectivamente). Com isso, elas projeções também estão acima da meta dos próximos dois anos (de 3,25% e 3,00%, respectivamente), em um sinal de desancoragem das expectativas.

Além disso, o mercado também passou a prever uma Selic maior neste ano. A estimativa é que a taxa básica esteja em 13,25% em dezembro, o que implicaria em mais uma alta de 0,5 ponto percentual na reunião do Copom de junho, e a disparada do dólar ante o real nos últimos dias também contribui para ampliar a incerteza sobre as próximas reuniões.

Visão mais otimista

Para Marcelo Oliveira, fundador da Quantzed, o IPCA-15 de abril “ajuda a acalmar os ânimos” e dá espaço para o discurso do Banco Central de terminar o ciclo de alta de juros na reunião do Copom da próxima semana. “O número dá a esperança de que a inflação está no seu pico e o começa a se recuperar mais, mesmo com o cenário instável no mundo”.

Oliveira aponta que o mercado reagiu “muito bem, com DIs futuros fechando e bolsa subindo”. “Só quem está na contramão é o dólar, mas porque está totalmente descorrelacionado com o micro do Brasil e mais relacionado ao macro mundial”, diz o fundador da Quantzed. “Com o IPCA-15 um pouco melhor, começa a dar um respiro de que estamos perto do fim do ciclo de alta de juros.”

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Fonte

www.infomoney.com.br

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