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A máquina de dinheiro da blockchain Terra (LUNA) entrou quase que inteiramente em colapso. A stablecoin UST permanece abaixo do dólar americano pelo terceiro dia consecutivo, e a LUNA, sua criptomoeda irmã, caiu quase 97% desde sua alta de 2022.

O fracasso quase completo do projeto queridinho das finanças descentralizadas (DeFi) é uma lição importante sobre os riscos sistêmicos das stablecoins algorítmicas – o santo graal indescritível do mercado cripto.

Entender por que a Terra entrou em colapso na semana passada significa entender seu calcanhar de Aquiles – o protocolo de empréstimo Anchor (ANC).

Um dos primeiros sinais de que as coisas estavam dando errado para a Terra veio quando os depósitos de UST no Anchor começaram a cair no sábado (6).

O Anchor oferece rendimentos de até 20% ao ano para usuários que depositam UST em sua plataforma. Antes de a UST iniciar seu declínio no sábado, o protocolo abrigava 75% de todo o suprimento circulante da stablecoin. Isso representa US$ 14 bilhões em UST de uma oferta circulante total de US$ 18 bilhões.

Total de depósitos e empréstimo no protocolo Anchor

Com tanto UST trancado no Anchor, ficou claro que a maioria dos investidores estava comprando a stablecoin com a única intenção de colher os bons e doces rendimentos do protocolo. Para alguns participantes do mercado cripto, o relacionamento do Anchor com a UST foi um mecanismo engenhoso para fabricar utilidade para uma stablecoin incipiente, ou ainda um desperdício de marketing que atraiu capital mercenário desleal.

Os críticos disseram que os altos rendimentos do Anchor eram insustentáveis – sustentados artificialmente pelos construtores da Terraform Labs, empresa por trás dos projetos, e seus grandes financiadores. Uma diminuição do rendimento, alegam, teria feito os depositantes de UST fugirem do Anchor (e da UST) para encontrar retornos mais altos.

Leia também: Criptomoeda Terra (LUNA) despenca mais de 90% em meio à crise com stablecoin; entenda

O sistema parecia semelhante ao de uma Uber jovem, em que os VCs subsidiavam as taxas de viagem das pessoas em uma tentativa de longo prazo para alcançar o domínio do mercado. Em vez de tarifas de táxi mais baratas, os rendimentos inflacionados do Anchor foram usados para atrair pessoas para o ecossistema Terra – esperançosamente de forma permanente.

O problema, de acordo com os críticos, era que a Terraform Labs e seus parceiros só podiam subsidiar investidores por algum tempo. Em algum momento, o dinheiro iria secar, assim como o cliente do Anchor (e os detentores dispostos a segurar UST).

Embora o Anchor nunca tenha sido forçado a diminuir suas taxas de rendimento de forma muito significativa, os depósitos de UST caíram acentuadamente no início desta semana, de US$ 14 bilhões para US$ 3 bilhões. Tanto dinheiro drenado do hub principal da UST sinalizou uma enorme perda de confiança em todo o protocolo. Com poucos outros casos de uso para UST além do Anchor, a maioria das retiradas da plataforma provavelmente acabou no mercado aberto.

Movimento do preço de Luna e UST

Como se poderia esperar, a fuga maciça do Anchor contribuiu com uma grande pressão de venda para o ecossistema Terra.

A UST, a chamada stablecoin algorítmica, trabalha com sua cripto irmã, a LUNA, para manter um preço em torno de US$ 1 usando um conjunto de mecânicas de cunhagem e queima na blockchain. Em teoria, esses mecanismos devem garantir que US$ 1 em UST possa ser usado para cunhar US$ 1 em LUNA – que serve como uma espécie de amortecedor de preços flutuantes para a volatilidade da stablecoin.

A pressão de venda maciça levou a quedas acentuadas nos preços de LUNA e de UST. Eventualmente, o valor de mercado da LUNA virou o da UST pela primeira vez. Quando não havia mais US$ 1 em LUNA para cada US$ 1 em UST, alguns traders atentos temeram que todo o sistema pudesse se tornar insolvente (já que os detentores de UST não teriam uma maneira clara de “sacar” em LUNA no caso de uma corrida para retirar a moeda).

Se esse medo era justo ou não, é papo para outra matéria. No entanto, é difícil imaginar que o impacto psicológico da queda e a “inversão” do valor de mercado UST-LUNA não causariam uma ação de venda adicional.

Saldo da reserva da Fundação Luna ao longo do tempo

A fim de reforçar o preço da UST, a Luna Foundation Guard (LFG), organização sem fins lucrativos ligada ao ecossistema Terra, implantou mais de US$ 2 bilhões em suas reservas de Bitcoin (BTC) recém-formadas.

Do Kwon, CEO da Terraform Labs, começou a varrer o BTC do mercado nos últimos meses em uma tentativa de dar suporte para a Terra caso seu lastro precisasse ser amparado.

Em seu primeiro (e talvez último) teste desse mecanismo, a LFG “emprestou” bilhões de dólares em ativos de reserva para formadores de mercado profissionais, drenando suas carteiras na blockchain quase inteiramente no processo.

Agora, enquanto a LFG luta para completar suas reservas vazias com novos investidores, os formadores de mercado estão em uma busca para defender ativamente o lastro da Terra, empregando capital de resgate em bolsas e pools de liquidez.

Movimento do preço de Luna e UST nesta semana

Embora o capital de resgate das reservas da Terra tenha tido um sucesso modesto ao aumentar os preços de UST e Luna na terça-feira (10), os preços de ambos os tokens foram extremamente voláteis até as primeiras horas da manhã da quarta-feira (11).

Foi nesse ponto que todas as apostas pareciam estar erradas para uma recuperação suave da UST. Mesmo quando Do Kwon anunciou no Twitter que um plano de resgate da Terra estava em andamento, a confiança do mercado no projeto parecia cair para mínimos históricos.

A certa altura, a LUNA – com preço acima de US$ 120 no início deste ano – desabou e ficou abaixo de um dólar. A UST caiu abaixo de US$ 0,30 por um breve momento, o que levou observadores a perguntar se a moeda “estável” seria capaz de recuperar sua estabilidade.

Bitcoin: volume líquido de transferências de/para exchanges

Grande parte das centenas de milhões de dólares em Bitcoin usados para resgatar a UST provavelmente foi vendida diretamente ao mercado no início desta semana. Saques para altcoins teriam sido necessários para os traders que esperavam defender a paridade da Terra.

Os gráficos de volumes de transferência líquida do BTC contam essa história, mostrando picos de volume maciços em 9 e 10 de maio, quando as reservas da Terra foram implantadas pela primeira vez. Embora a plataforma não seja responsável por todos esses picos, bilhões de dólares em reservas liberadas na Terra certamente teriam causado impacto.

Os despejos de reservas do projeto provavelmente adicionaram pressão de venda a um mercado já tumultuado.

O impacto da UST no mercado mais amplo é uma nota de rodapé importante em meio ao caos desta semana. É um lembrete que mostra por que as stablecoins – que formam a base das finanças descentralizadas – não apenas representam um risco para os traders individuais, mas também representam um risco sistêmico para todo o ecossistema de criptomoedas se não forem gerenciadas com responsabilidade.

Não se surpreenda quando os reguladores vierem bater na porta.

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Fonte

www.infomoney.com.br

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