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As vendas no varejo brasileiro mostraram desaceleração em outubro, com o volume subindo 0,4% ante os 1,2% verificados em setembro. Isso se explica tanto pela inflação no período, que voltou a subir após algumas medições de deflação, como pelas condições de crédito mais restritas e a renda ainda comprimida de boa parte das famílias, dizem analistas.

Para Carla Argenta, economista chefe da CM Capital, o dado ainda positivo nas vendas do varejo em outubro foi beneficiado em grande medida pelo efeito das políticas de recomposição e ampliação de renda, mas a perda de força observada no mês se deve parcialmente à inflação de outubro, que voltou a crescer com força após três meses consecutivos de recuo.

“Apesar de já ser tratadas como definitivas, tais políticas já mostram arrefecimento do seu impacto e não devem ser capazes de produzir efeitos positivos e sustentáveis ao longo dos próximos períodos, tendo em vista que a inflação deve voltar a comprometer parte dos recursos disponibilizados”, disse.

Carla acredita que política monetária restritiva imposta pelo Banco Central (que manteve ontem a taxa Selic em 13,75%) deve contribuir para a desaceleração econômica ao longo de 2023, e que isso afetará diretamente o desempenho do comércio, que terá dificuldades em estabelecer uma trajetória sustentável de crescimento e deve perder tração no decorrer do próximo ano.

Rodolfo Margato, economista da XP, voltou a destacar que as vendas varejistas em outubro apresentaram sinais heterogêneos entre as categorias, já que cinco entre as dez acompanhadas pelo IBGE registraram ganhos em relação a setembro.

Do lado positivo, ele destacou o quarto aumento mensal consecutivo nas vendas de combustíveis e lubrificantes, o terceiro avanço seguido nas vendas de supermercados, alimentos e Bebidas, além da recuperação das vendas de móveis e eletrodomésticos e de materiais e equipamentos para escritório. “A nosso ver, os resultados melhores nos dois últimos grupos refletem, ainda que parcialmente, a antecipação de ações promocionais de vendas relacionadas à campanha Black Friday”, comentou.

Do lado negativo, ele citou os grupos de materiais de construção, vestuário e calçados e de veículos, motos, partes e peças, que permanecem em trajetória de queda.

“Em suma, condições de crédito mais apertadas e o alto grau de endividamento das famílias vêm pesando de forma significativa sobre as vendas do varejo. A recuperação do mercado de trabalho, combinada a estímulos fiscais de curto prazo suavizam a desaceleração em curso das vendas varejistas”, disse.

Ventos contrários

Para o Goldman Sachs, fatores como as condições financeiras domésticas apertadas, níveis recordes de endividamento das famílias, crescimento moderado do emprego, condições de crédito cada vez mais exigentes e erosão da confiança do consumidor provavelmente gerarão ventos contrários para a atividade de varejo nos próximos meses.

“Do lado positivo, a moderação da inflação (apoiando os salários reais) e generosas transferências fiscais em dinheiro para famílias com alta propensão a consumir devem oferecer algum suporte de curto prazo à atividade varejista”, previu o banco de investimentos.

Já o BTG Pactual, vê para o curtíssimo prazo vetores tanto de alta como de baixa para o setor, “mas no agregado esperamos continuidade do sentimento mais brando para o setor varejista ante Serviços”.

“Como vetores positivos, além do aumento da renda disponível das famílias em meio ao arrefecimento da inflação, o mercado de trabalho mais forte e as datas comemorativas com melhora do ambiente sanitário podem impulsionar as vendas, especialmente de vestuário e supermercados”, analisou.

Na direção oposta, o BTG Pactual mantém a cautela com segmentos dependentes de crédito, como veículos e materiais de construção, que tem mostrado dados mais fracos em virtude da taxa Selic em patamar restritivo e da demanda saturada.

“Para novembro, os indicadores antecedentes passaram sentimentos mistos, com avanço nos dados de licenciamento de veículos, mas queda expressiva na confiança do comércio, com o último relatando deterioração do sentimento em meio aos impactos da taxa Selic na atividade econômica e incertezas quanto ao arcabouço fiscal no próximo ano”, comentou o banco.


Fonte

www.infomoney.com.br

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