Skip to main content

Economistas avaliam que o Banco Central adotou um tom mais realista e “hawkish” (uma postura mais dura para combater a inflação) na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira (21), devido a uma alta de preços mais persistentes não só no Brasil como em todo o mundo. No documento, a autoridade monetária admitiu que a inflação não deve convergir para o centro da meta em 2023, apesar da extensão do ciclo de alta de juros, e disse que a Selic vai precisar subir mais e permanecer em um patamar mais alto por mais tempo para combater a inflação.

O BC vinha indicando nos últimos meses que pretendia encerrar o ciclo de alta de juros no Copom da semana passada, com a Selic em 13,25% ao ano, mas admitiu já no comunicado divulgado após a reunião da semana passada que deve aumentar a taxa em mais 0,5 ou 0,25 ponto percentual no próximo encontro, no começo de agosto. Agora, com a ata do Copom, analistas são praticamente unânimes em prever que o reajuste será de 0,5 p.p. – e alguns apostam em mais uma alta em setembro.

Para Laiz Carvalho, economista para o Brasil do BNP Paribas, “comparada com o comunicado, a ata teve um tom um pouco mais ‘hawkish’. “É um BC que se mostrou um pouco mais preocupado com a inflação e com a piora do cenário global, se comprometendo em fazer mais – e o necessário – para trazer a inflação para a meta”. Carvalho prevê mais uma alta de 0,5 p.p. em agosto e outra em setembro, levando a Selic para 14,25% ao ano, e que os juros só vão começar a cair no segundo trimestre de 2023, até chegar em 10,5% no fim do próximo ano.

Caio Megale, economista-chefe da XP, avalia que a ata do Copom “descreve um quadro de inflação desafiador que convenceu o comitê a respeito da necessidade de uma taxa Selic terminal mais alta (além da manutenção de juros elevados por um longo período)”. “Sobre a política fiscal, a ata reforça a mensagem do comunicado pós-decisão, de que as incertezas sobre o futuro das contas públicas do país e as políticas de sustentação da demanda agregada podem trazer riscos altistas ao cenário inflacionário. E que as medidas fiscais em tramitação no Congresso aumentariam a expectativa de inflação para 2023”.

Para Megale, “outra parte ‘hawkish’ da ata é que o Copom deixou clara a intenção de reduzir sua projeção de inflação (IPCA) de 2023 de 4% para ‘em torno da meta’”. “Julgamos isso importante porque, no pronunciamento pós-reunião, o Copom parecia considerar que 4% já seria ‘em torno da meta’.

“Diante desse cenário desafiador, o comitê reconheceu que a manutenção da taxa Selic por um período suficientemente longo não asseguraria, neste momento, a convergência da inflação para em torno da meta no horizonte relevante de política monetária”, destaca o economista-chefe da XP. “Em outras palavras, o plano inicial de interromper o processo de elevação da taxa básica de juros não se sustentou por muito tempo. Isso é consistente com nosso cenário de uma alta adicional de 0,50 pp na reunião do Copom em agosto, antes de um longo período de ‘esperar para ver’.”

Mais neutro que ‘hawkish’

Para o BofA (Bank of America Merrill Lynch) e o Goldman Sachs, o tom adotado na ata do Copom foi mais neutro do que “hawkish”. David Beker, analista do BofA, diz que o documento “dá uma mensagem neutra”, “não trouxe surpresas” e teve “linguagem semelhante” ao comunicado divulgado após o Copom na semana passada, que decidiu por elevar a Selic em 0,5 ponto.

Beker elenca, entre os pontos-chave da ata, que:

  • O ambiente global continuou a se deteriorar, aumentando a pressão inflacionária
  • As incertezas estão acima do normal e aumentaram desde a última reunião, incluindo a trajetória dos preços das commodities
  • A incerteza sobre o cenário fiscal pode trazer riscos de alta para as expectativas de inflação, apesar da possível redução da inflação neste ano com cortes de impostos
  • A intenção do BC de trazer a inflação projetada para um patamar próximo da meta e a sinalização de que vai manter a taxa de juros em território contracionista por um período maior

“O comitê observou a necessidade de taxas mais altas por um período mais prolongado, para permitir a convergência da inflação”, afirma o analista do BofA. “A mensagem é consistente com nosso ‘call’ de Selic terminal em 13,75%, após alta de 50 bps em agosto”. Assim como o BNP Paribas, o banco também projeta uma taxa de juros de 10,5% ao ano no fim de 2023.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, diz que “à primeira vista, nossa leitura apontava para uma ata ‘hawkish’”. “Mas, após reler algumas vezes, avaliei que a comunicação entre neutra e ‘hawkish’”. Ele aponta como um tom mais duro a parte da assimetria de risco altista, atribuída à inflação e ao fiscal, e como mais neutra a parte em que o BC diz que que a nova trajetória de juros é suficiente para a convergência da inflação.

“Em outras palavras, a trajetória do Boletim Focus para a Selic, de 13,25% ao término de 2022 e de 10,00% ao término de 2023, é insuficiente para convergência, mas subir o juro para 13,50% ou 13,75% e mantê-lo por mais tempo nesse patamar é o suficiente”, afirma Sanchez. “No final das contas, mantemos nossa perspectiva de que o juro deverá ser elevado em 50bps na próxima reunião, patamar que deverá ser sustentado até o segundo trimestre de 2023, sendo reduzido gradativamente ao longo daquele ano e encerrando o próximo ano em 10,25%”.

Parte ‘hawkish’, parte ‘dovish’

Análise do Goldman Sachs diz que o Banco Central “está jogando pelo garantido enquanto se mantém conservador” e destaca como ponto “hawkish” da ata o parágrafo 16, em que “o Copom destaca que a trajetória necessária para trazer a inflação projetada de 4,0% para o final de 2023 em torno da meta [3,25%] para o horizonte relevante combina, por um lado, uma taxa de juros terminal superior ao utilizado no cenário de referência e, por outro, a manutenção da taxa de juro em território significativamente contracionista por um período superior ao previsto no cenário de referência”.

“Além disso, no parágrafo 18, o Copom ressaltou que, dada a persistência dos choques recentes, apenas a manutenção da taxa Selic [em 13,25%] por um período suficientemente longo não garantiria, neste momento, a convergência da inflação para o alvo ao longo do horizonte relevante”, escreve o analista Alberto Ramos.

Ele também destaca que o BC não diz se a próxima reunião do Copom encerrará o ciclo de alta dos juros, “mas alertou que, dada a crescente incerteza que cerca o cenário macro, juntamente com o estágio avançado do ciclo e o impacto ainda a ser observado do aperto recente (efeito defasado), é necessária cautela adicional na calibração das próximas decisões de política monetária”.

O Goldman Sachs também projeta uma alta de 0,5 p.p na próxima reunião e não descarta “uma extensão do ciclo de alta para além de agosto se a dinâmica da inflação se mostrar mais persistente do que o previsto no cenário base do Copom e as previsões de inflação para 2023 e 2024 avançarem ainda mais”. O banco acredita que a autoridade monetária vai esperar até o final do segundo trimestre de 2023 (ou possivelmente o terceiro trimestre) para começar a reduzir a Selic.

Como ponto “dovish” (menos duro no combate à inflação) da ata, Ramos destaca que o cenário base do Copom projeta uma inflação de 2,7% em 2024, abaixo do centro da meta para o ano (que é de 3%). Ele ressalta que a projetação não é “tão baixa quanto no Relatório de Inflação de março”, mas o ano de 2024 “passará a ter um peso incremental no horizonte relevante do Copom para a política monetária”.

“Em nossa avaliação, dado que a orientação da política monetária já é altamente restritiva, estamos entrando agora em um estágio de ajuste fino de final de ciclo. Entendemos que, nesta conjuntura, mais do que um aperto adicional significativo, o que será necessário daqui para frente é perseverança e garra. A determinação de manter a postura de política restritiva pelo tempo que for necessário”, escreve o analista do Goldman Sachs.


Fonte

www.infomoney.com.br

Leave a Reply

1