A quinta-feira (10) inicia com maior aversão a risco no mercado, com a disparada do dólar e dos juros futuros. Diante da forte volatilidade nos preços e taxas, as negociações dos títulos públicos foram suspensas por volta das 11h40 de hoje. Com isso, investidores só podem comprar e vender papéis do Tesouro Selic.
Quando há forte oscilação de preços e taxas, o Tesouro suspende temporariamente as vendas e compras para evitar que o investidor feche temporariamente as transações a um preço que possa ficar rapidamente defasado.
No radar, estão dados de inflação dos Estados Unidos e do Brasil. Na cena local, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,59% em outubro na base mensal e interrompeu sequência de três meses de deflação (inflação negativa). O número ficou bem acima do esperado pelo mercado, que previa variação mensal positiva de 0,48%, segundo consenso Refinitiv.
Para o economista da MAG Investimentos Fernando Rodrigo de Oliveira, o número trouxe algumas surpresas: a alta maior dos alimentos em domicílio (+0,80%) e o avanço no índice de difusão (que mede o percentual de itens que tiveram aumento), que chegou a 68% em outubro depois de cair para 62% em setembro.
Soluções acima do teto de gastos para viabilizar o antigo Bolsa Família de R$ 600 por mês ganham força e preocupam agentes financeiros, em meio a um cenário cheio de ruídos com a indefinição sobre o novo ministro da Fazenda.
A “surpresa desagradável” com os dados de inflação, juntamente com a piora fiscal, ajudam a pressionar bastante a curva de juros nesta quinta-feira. A alta é maior na parte mais longa da curva.
“O dia é tumultuado tanto no que diz respeito à inflação de curto prazo quanto à ancoragem das expectativas do mercado para o futuro, dada a piora da percepção fiscal”, diz Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.
O reflexo disso pode ser sentido também no Tesouro Direto. Antes da suspensão dos negócios, o mercado de títulos públicos operava com alta expressiva das taxas, de até 81 pontos-base (0,81 ponto percentual).
O destaque estava no Tesouro Prefixado 2033, com cupom semestral, que via o juro subir de 12,17% na sessão anterior para 12,98% ao ano hoje, por volta das 10h10 da manhã. A última vez que o retorno oferecido pelo papel chegou a esse patamar tinha sido em agosto deste ano.
Já entre os papéis atrelados à inflação, todas as taxas tinham voltado a ficar acima dos 6% ao ano. A maior remuneração real era oferecida pelo Tesouro IPCA+ 2045, no valor de 6,27% ao ano, acima dos 5,92% vistos na véspera. Tal percentual tinha sido visto pela última vez em julho deste ano.
As negociações do Tesouro IPCA+ 2055 estão suspensas desde ontem. A interrupção é fruto do pagamento do cupom semestral, previsto para a próxima quarta-feira (16).
O Tesouro Direto costuma proibir a compra do título quatro dias úteis antes do pagamento de cupom de juros. Além disso, também ficará suspensa, a partir dos dois dias úteis anteriores ao pagamento do cupom, a recompra desses títulos.
Fora do teto
Agentes financeiros renovaram preocupações com promessas de campanha que podem ficar fora do teto de gastos, como o Bolsa Família de R$ 600, a partir de janeiro. As despesas previstas ficariam em torno de R$ 175 bilhões no ano que vem, o que abriria espaço para que os R$ 105 bilhões reservados ao programa no Orçamento de 2023 fossem remanejados para cobrir outros gastos defendidos pela candidatura petista durante a campanha.
Em relatório, analistas da XP destacaram que a proposta “superou” desenhos alternativos que estavam em discussão logo à saída do segundo turno. Para o ano que vem, a recomendação de técnicos da equipe de transição é que o texto preveja a necessidade de compensação de receitas caso haja aumento nas despesas com o programa e volte a entrar na meta.
“A proposta tem forte apelo junto ao Congresso por ser de simples compreensão e com um argumento de difícil enfrentamento pelos parlamentares (retirar limites para os gastos com transferência de renda)”, acrescentam os especialistas da XP em nota, embora ponderem que há certa resistência de parte do Centrão em dar um “cheque em branco” ao novo governo.
Os profissionais da corretora destacam que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fará, nesta quinta-feira, a primeira reunião com líderes das bancadas no Congresso para testar a aceitação dessa proposta.
“É possível que ajustes sejam feitos, mas será preciso reações rápidas e contundentes para mostrar que a retirada total do programa social do teto de gastos pode não ser o melhor caminho”, ponderam os especialistas.
IPCA
Na cena doméstica, o destaque está nos números de inflação em outubro. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA acumulado em 12 meses foi a 6,47%. No ano, o indicador está em 4,70%.
A alta mensal veio acima da expectativa do mercado, que era de uma deflação de 0,48% em outubro e de 6,34% em 12 meses, segundo o consenso Refinitiv.
Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, oito mostraram alta em outubro. A maior contribuição do mês, de 0,16 ponto porcentual (p.p.), veio de Alimentação e bebidas (+0,72%), que havia recuado 0,51% em setembro.
Os Transportes, que passaram de uma deflação de 1,98% em setembro para uma alta de 0,58% em outubro, tiveram como destaque o recuo dos preços dos combustíveis (-1,27%) bem menos intenso foi menos intenso que no mês anterior (-8,50%).
Gasolina (-1,56%), óleo diesel (-2,19%) e gás veicular (-1,21%) seguiram em queda, enquanto o etanol registrou alta de 1,34%. Além disso, houve aumento expressivo nos preços das passagens aéreas (+27,38%), maior contribuição individual no IPCA de outubro (0,16 p.p.).
Embora o indicador tenha apresentado algumas surpresas mais negativas, Oliveira, da MAG Investimentos, destaca que as medidas subjacentes de inflação mantiveram tendência de desaceleração no dado interanual e que a inflação de serviços veio abaixo do esperado (+0,67%), o que indica que o aperto monetário está fazendo efeito nos preços.
“Para os próximos meses, a perspectiva aponta para um movimento de inflação de bens industriais e serviços desacelerando, o que deve permitir a manutenção do movimento de recuo do IPCA no acumulado em 12 meses”, destaca o economista.
Estados Unidos
O destaque na cena americana está no CPI, que subiu 0,4% em outubro, na comparação com setembro, segundo dados com ajuste sazonal divulgados nesta quinta-feira (10) pelo Departamento do Trabalho americano.
Com isso, a inflação para o consumidor atingiu alta de 7,7% no acumulado em 12 meses. Este foi o menor aumento de 12 meses desde o período encerrado em janeiro de 2022.
Tanto a medição mensal como a anual vieram abaixo da expectativa do mercado. O consenso Refinitiv apontava para alta de 0,6% ante setembro e de 8,0% em 12 meses.
O núcleo da inflação, que exclui a variação dos preços de alimentos e energia subiu 0,3% em outubro, após alta de 0,6% em setembro. Em 12 meses, subiu 6,3%.
O índice de energia aumentou 17,6% nos 12 meses terminando em outubro, e o índice de alimentos aumentou 10,9% em relação ao ano passado. Esses aumentos foram menores do que no período encerrado em setembro.
Fonte
www.infomoney.com.br