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Os preços do petróleo aceleraram as altas e voltaram a renovar máximas desde 2014, com o Brent superando os US$ 93 o barril na última sexta-feira (4), nas máximas desde 2014, em meio a uma tempestade de inverno nos Estados Unidos, que está alimentando preocupações sobre interrupções no fornecimento.

“A última alta foi desencadeada por uma onda de frio no Texas, que está alimentando preocupações sobre interrupções de produção na Bacia do Permian, o maior produtor de ‘shale’ dos EUA”, disse Carsten Fritsch, analista de commodities do Commerzbank.

Porém, de acordo com analistas e estrategistas de mercado, as tensões geopolíticas são a grande preocupação e devem definir o rumo do mercado da commodity. Duas questões em especial preocupam: uma potencial guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que vem se desenhando cada vez mais como uma de suas principais preocupações para os mercados em 2022, além da chegada ou não de um acordo nuclear entre Irã e EUA.

Os Estados Unidos alertaram na quinta-feira que a Rússia formulou várias opções como desculpa para invadir a Ucrânia. Moscou rejeitou a acusação e no passado disse que não está planejando uma invasão.

O Bradesco BBI traçou alguns cenários para o mercado após conversa com Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV. Para os analistas do banco, no geral, a impressão que foi passada é de que um potencial acordo
acordo com o Irã poderia ser mais difícil de ser realizado do que eles previam anteriormente, o que traria um aumento da pressão para as estimativas atuais da casa para os preços do petróleo.

Já o caso Ucrânia, por sua vez, pode ser observado por alguns ângulos. Stuenkel acredita que a principal motivação russa para as recentes escaladas que vêm causando apreensão é uma preocupação genuína com a inserção de mísseis americanos em território ucraniano. Há a hipótese de motivações para exercer uma crescente influência política e econômica, mas a principal razão seria a segurança.

Assim, acredita que a Rússia não deva se inclinar para conflitos armados, pois isso pode ser prejudicial para o país. Do ponto de vista dos EUA, a Ucrânia se tornou uma distração de preocupações geopolíticas maiores (como avanços econômicos da China), mas o presidente tem que se mostrar firme nesse tema. Enquanto os EUA também querem evitar qualquer tipo de conflito armado/escalado (pois não é do interesse dos cidadãos), o país imporá sanções, se necessário, dependendo da gravidade da situação.

A grande questão é a Alemanha, que faz “malabarismos diplomáticos” tentando apaziguar a situação. O país é fortemente dependente da Rússia do ponto de vista energético e tem todo interesse em concluir o gasoduto Nord Stream 2, especialmente sob o contexto de escalada do preço do gás. Stuenkel acredita que o país vai acelerar seus investimentos em energias renováveis ​​para sair desta situação diplomática a longo prazo.

O professor vê quatro cenários possíveis para a questão ucraniana:

(1) Tentativa russa de diminuir a tensão, retirando tropas da fronteira e da Bielorrússia (Norte da Ucrânia), o que ele vê como improvável de acontecer.

(2) As tropas russas permanecem firmes, possivelmente com a Rússia enviando mais tropas para áreas já invadidas
(cenário ocorrido em 2014 e que trouxe turbulência aos mercados, mas não necessariamente grave).

Este seria um cenário não negligenciável do ponto de vista de probabilidade e o Ocidente poderia reagir devido à reincidência com potenciais sanções bilaterais entre países, mas nada coordenado para haver um maior alcance.

(3) Ocupação parcial. A Rússia invade metade da Ucrânia, mais especificamente a parte oriental, onde existe um
maior presença de ucranianos de origem russa, mas evitando a ocupação da capital Kiev.

(4) Ocupação completa com uma tentativa de derrubar o governo ucraniano. Para Stuenkel, o custo para a Rússia nesse caso seria muito alto.

Em qualquer cenário, porém, avalia há uma baixa probabilidade de conflito militar, pois não interessa aos EUA e à opinião pública americana e potencialmente nem mesmo a Rússia. Isso minimiza a chance de danos para a infraestrutura petrolífera, tendo em conta que a Ucrânia transporta cerca de 1,6 milhão de barris por dia.

Irã: mais longe de um acordo

O acordo nuclear iraniano parece mais improvável de ocorrer do que o BBI pensava inicialmente, uma vez que as negociações parecem ter parado, talvez mais devido aos iranianos, que recentemente elegeram um governo extremista, avaliam os analistas.

O impasse vem do fato de o Irã querer que os EUA removam todas as sanções, e aí sim o país parará de enriquecer urânio.

Parte do mercado acredita que a 8ª rodada de conversas sobre o tema (que termina provavelmente no início de fevereiro) poderia ser a última oportunidade para um acordo, mas Stuenkel não descarta mais rodadas. Além disso, entre o enriquecimento real de urânio e o uso de armas nucleares, existem várias etapas (como é o caso da Coreia do Norte, que vem testando armas nucleares há anos).

Um possível resultado de escalada que afetaria materialmente o mercado global de petróleo seria Israel disparar mísseis em laboratórios iranianos (como foi feito no passado) com o Irã respondendo atacando o Estreito de Ormuz (região chave para as exportações de petróleo). Stuenkel acredita que um ataque israelense provavelmente descartaria qualquer chance de novas conversas.

“O acordo iraniano pode parecer mais difícil do que o que está incorporado em nosso caso base. A partir do ponto de vista do Irã, talvez fosse interessante continuar negociando um acordo enquanto o programa de enriquecimento ocorre. Ao longo do caminho, existe o risco de que Israel tome alguma ação”, aponta.

A curva de petróleo estimada pelo BBI no caso base é de que acordo ocorra este ano, contribuindo para 2 milhões de barris por dia de produção para o mercado. Se um acordo não acontecer, os preços do brent devem ficar acima dos US$ 80 o barril em 2022, enquanto o cenário base dos analistas do banco é de um petróleo a US$ 65 o barril.

Acima de US$ 100 e suas implicações

Porém, cada vez mais o petróleo se aproxima da casa dos US$ 100, conforme já projetado por casas como Goldman Sachs e Morgan Stanley.

O estrategista de mercado global da Invesco, baseado em Hong Kong, David Chao, previu em evento da Reuters que os preços do petróleo podem subir de 10% a 15%.

“Isso colocaria uma tremenda pressão ascendente sobre a inflação nos países ocidentais, o que forçaria muitos dos principais bancos centrais a aumentar preventivamente as taxas de juros”, disse Chao.

John Vail, estrategista-chefe global da Nikko Asset Management, acredita que os bancos centrais terão dificuldade em controlar a inflação crescente e espera que o Federal Reserve dos EUA aumente as taxas de juros sete vezes este ano.

(com informações da Reuters)

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Fonte

www.infomoney.com.br

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