Os dois candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), não tiveram interações diretas regulares no último debate entre os presidenciáveis antes do primeiro turno, promovido pela TV Globo nesta quinta-feira (29), mas protagonizaram um duelo peculiar com ataques durante interações com outros candidatos e uma enxurrada de pedidos de direitos de resposta.
O centro dos enfrentamentos envolveu mais uma vez a pauta da corrupção, levantada logo no início do debate, em dobradinha feita pelo candidato Padre Kelmon (PTB) com Bolsonaro. Pesquisas e diversos analistas políticos, no entanto, vêm indicando que, ao contrário do que ocorreu em 2018, a corrupção não é tema prioritário para o eleitor no pleito deste ano.
“Essa política da esquerda, do PT, que governou esse país por 13 anos, nós não podemos nos enganar, porque são mais do mesmo. Mentem o tempo todo, enganam as pessoas”, afirmou Kelmon, chamado pelos demais candidatos de “linha auxiliar” do atual mandatário e de “candidato laranja”, pelo fato de substituir Roberto Jefferson (PTB), impedido de disputar por estar enquadrado na Lei da Ficha Limpa.
“O que está em jogo é o futuro de uma nação. Nós não podemos voltar à fase que éramos há pouco tempo, onde era realmente uma cleptocracia – a roubalheira imperava em nosso país. O governo Lula foi o chefe de uma grande quadrilha, dezenas de delatores devolveram R$ 6 bilhões para pegar uma pena menor. Nós não podemos continuar em um país da roubalheira”, disse Bolsonaro em resposta.
“Não podemos voltar a esse estado de coisas que aconteceu há pouco tempo no país, onde a roubalheira imperava”, emendou. A fala suscitou pedido de direito de resposta por Lula, concedido pela comissão avaliadora escalada pela TV Globo, o que incomodou Bolsonaro, que fez insinuações de que a emissora estaria beneficiando o candidato petista.
Em sua intervenção, Lula rebateu mantendo a pauta da corrupção, citando casos associados à atual gestão. “Eu esperava, em um debate entre pessoas que querem ser presidente da República, [que] o atual presidente tivesse o mínimo de honestidade, o mínimo de seriedade. Ele falar que eu montei quadrilha… Com a quadrilha da rachadinha dele, que ele decretou sigilo de 100 anos, com o Ministério da Educação com barra de ouro. Ele falar de quadrilha comigo? Ele precisava se olhar no espelho e saber o que está acontecendo no governo dele. Ele [deveria] saber o que foi a quadrilha da vacina, o que foi o oferecimento de US$ 1,00 para cada vacina importada”, disse.
Na sequência, foi a vez de Bolsonaro pedir direito de resposta e ser atendido. “Mentiroso, ex-presidiário, traidor da pátria. Que rachadinha? Rachadinha é (sic) seus filhos, roubando milhões de empresas após sua chegada ao poder. Que CPI é essa, da farsa, que você vem defender? O que achou a meu respeito? Nada”, respondeu.
O atual presidente também voltou a citar denúncias de supostos ilícitos envolvendo o Consórcio do Nordeste na aquisição de equipamentos durante a pandemia, e responsabilizou aliados de Lula por mortes de pessoas por falta de respiradores para atender pacientes com Covid-19.
Um terceiro pedido de resposta foi pedido por Lula e concedido pelos organizadores do debate, gerando flagrante incômodo entre os demais candidatos. “É uma insanidade um presidente da República vir aqui e dizer o que ele fala com a maior desfaçatez. “É uma insanidade um presidente da República vir aqui e dizer o que ele fala com a maior desfaçatez. É por isso que no dia 2 de outubro o povo vai te mandar para casa. E eu vou fazer um decreto acabando com o seu sigilo de 100 anos para saber o que tanto você quer esconder”, declarou.
Bolsonaro chegou a pedir mais um direito de resposta, que não foi concedido. Mas não demorou até que os dois candidatos que lideram as pesquisas se envolvessem em um novo embate indireto no debate. Ainda no primeiro bloco, Bolsonaro escolheu perguntar à senadora Simone Tebet (MDB). Em sua indagação, o atual presidente citou reportagem, que supostamente diz que a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP), vice da candidata, teria pago para esconder um suposto vínculo com a morte de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André.
“Sua vice, há algum tempo vem falando, e ontem falou novamente, que Lula foi o mentor intelectual do assassinato de Celso Daniel”, disse. “Qual é a posição da senhora sobre esse episódio?”, questionou.
Em sua resposta, Tebet disse que confiava integralmente em sua vice e se recusou a avançar na discussão do tema. “Eu lamento essa questão ser trazida em um debate, neste momento tão importante da história do Brasil, e ser dirigida a mim. Eu acho que falta ao senhor coragem de perguntar isso ao candidato do PT, que, segundo o senhor, é envolvido e está aqui. Por que não pergunta sobre o candidato Lula sobre esse assunto? Vamos tratar do Brasil, vamos tratar dos reais problemas”, disse a parlamentar.
“Estamos a 3 dias da eleição, em uma das eleições mais difíceis do Brasil, e hoje o que vemos aqui não é a apresentação de propostas, mas ataques mútuos, para ver quem roubou mais, quem é mais incompetente, quem é mais insensível”, complementou. “É lamentável, presidente, que o senhor não esteja aqui para falar do Brasil real e apresentar soluções a ele”.
A fala de Bolsonaro deu origem a mais um pedido de resposta concedido a Lula, que se disse incomodado por ter que lançar mão tantas vezes do recurso. “Não é possível conviver com alguém com a cara de pau. Celso Daniel era meu amigo, era o melhor gestor público que esse país teve. Ele foi chamado para coordenar meu programa de governo de 2002”, disse. “Você vem culpar o Lula da morte do Celso Daniel? Seja responsável. Você tem uma filha de 10 anos assistindo o programa que você está fazendo. Pare de mentir, porque o povo não suporta mais”.
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