No olho do furacão. Era lá que se encontrava a gestora Riza Asset menos de dois meses após sua fundação, em janeiro de 2020. Na verdade, durante 2020 inteiro todo mundo se viu em um cenário completamente atípico, imprevisível e desafiador. Dessa forma, para uma gestora que tinha sido montada recentemente, esse foi um verdadeiro teste de resiliência – e de raízes.
Raízes, pois o nome Riza, em grego antigo, significa raiz – e por isso foi escolhido para nomear a gestora. A Riza Asset foi fundada por Daniel Lemos, que possui uma jornada profissional espetacular, e já ocupou diversos cargos na XP, inclusive a de CTO (chefe de tecnologia). Lemos foi o convidado do episódio 50 do podcast Outliers, apresentado por Samuel Ponsoni, gestor de fundos da família Selection na XP, e Carol Oliveira, coordenadora de análise de fundos da XP.
Com um papel relevante para a história da companhia, ele foi responsável pela criação de diversos produtos, times e iniciativas inovadoras. A passagem pela XP teve fim no início de 2019, quando ele decidiu fundar o próprio negócio.
Ao longo de 2019, Lemos conta que focou no planejamento dessa nova gestora, com a preocupação inicial de encontrar as pessoas, para posteriormente pensar nas caraterísticas dos fundos que criaria, como volatilidade, composição da carteira, segmento de atuação. Primeiro, toda estrutura de “gente” foi criada, para que os produtos fossem desenvolvidos de acordo com as competências do time.
Time esse que, recém-montado, precisou encarar a taxa de juros na mínima histórica, a migração de recursos para capital de risco, a necessidade de adotar o modelo remoto de trabalho de forma compulsória. Nesse cenário extremamente desafiador, era preciso se provar, captar recursos e constituir novos produtos.
No fim, acabou tudo bem. Hoje, a gestora conta com mais de R$ 10 bilhões em ativos sob gestão e uma gama de diferentes produtos, vertentes e segmentos de atuação.
O foco inicial da Riza Asset, em sua fundação, era o mercado de crédito, quando muitos gestores escolhem iniciar em classes mais tradicionais, como multimercados e ações. Lemos conta que o objetivo era criar um produto inovador, olhando para setores para os quais os gestores em geral não olhavam, trazendo um diferencial competitivo.
Um exemplo citado no episódio foi a criação um time focado em agronegócio, ideia que veio da experiência junto às maiores necessidades dos clientes na XP.
Porém, o agronegócio não foi a única “caixinha” montada pela gestora. Lemos conta que após montar uma verdadeira seleção de profissionais, a gestora passou a ter as pessoas certas atuando em suas áreas especializadas, que se dividam em cinco: núcleo de gestão de renda fixa; direct landing (empréstimo direto); securitização e carteira; agronegócio; e venture debt (foco em empréstimo para empresas de tecnologia).
Uma postura conservadora
Ao ser questionado sobre o cenário atual, Lemos ressalta que quando se olha apenas para o Brasil, a variância de cenário é muito grande. Além das eleições no radar dos investidores brasileiros, há o ciclo de alta de juros ainda incerto, a inflação persistente, o início de um possível ciclo de commodities, entre outros elementos.
Isso sem falar do cenário global, que complicou consideravelmente após a gravação do episódio 50 do podcast Outliers.
O conservadorismo da Riza se reflete em uma posição maior em caixa, já que ao olhar para os cenários de curto, médio e longo prazo, existem muitas dúvidas para serem resolvidas.
“Quando a gente coloca tudo isso numa panela a gente tem dificuldade de enxergar valor, valores relativos. Então a gente prefere nesses momentos aguardar do que ter grandes convicções”, disse Lemos.
De olho no mercado de renda fixa local, Lemos enxerga que os ativos estão relativamente bem precificados, e que esse conservadorismo é muito mais por conta do cenário macro. Além disso, ele reforça que as empresas do Brasil estão relativamente desalavancadas, sem apresentar exageros em sua estrutura de capital.
Uma forte opinião sobre criptos
De olho na abrangência do portfólio da Riza, Lemos foi questionado sobre quais são os ativos em que não investe hoje e não pretende investir em nenhum cenário, surpreendendo com sua resposta a respeito das criptomoedas, dadas as dificuldades de enxergar um valor no longo prazo, pontuou.
“Essa é uma boa pergunta. A gente teve várias discussões sobre, dando um passo atrás. Discutindo, por exemplo, se criptomoedas são investimentos, pra começar”, contou. “Acho que esse mercado, se ele for desenvolver, ele tem que desenvolver pra outras coisas. Que se pareçam mais com o investimento. Hoje, pra mim, ele não é um investimento”.
Lemos reforça que não aplicar em criptomoedas é uma questão de segurança do investimento. E que sem um valor transacional, base regulatória, pagamento de juros ou retorno diário para manter esses ativos portfólio, não faz sentido para a Riza investir. Ele pontuou ainda os riscos em relação a hackers, perda de chave e a dificuldade em compreender a dinâmica do ativo.
A entrevista completa e os episódios anteriores do podcast Outliers podem ser conferidos por Spotify, Deezer, Spreaker, Apple e demais agregadores de podcasts. Além disso, o podcast estreou no formato de vídeo no canal da XP no Youtube.
Fonte
www.infomoney.com.br