O cenário político deixou o mercado alerta nesta quinta-feira (8). O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), apontado como o favorito do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar o Ministério da Fazenda, confirmou que se reuniu, na manhã de hoje, com o ministro Paulo Guedes (Economia), como antecipou o Broadcast Político. Haddad disse ter sido bem recebido e que o encontro foi “excelente”.
“Passamos em revista vários assuntos importantes. Obviamente que em uma reunião de uma hora e meia não é possível esmiuçar todos os assuntos, mas foi excelente reunião. Fui muito bem recebido, definimos agenda de trabalho a partir da semana que vem”, afirmou o ex-ministro da Educação após o encontro, apenas entre os dois.
De acordo com Haddad, que ainda não foi confirmado oficialmente na Fazenda pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, ele foi ao Ministério na condução de interlocutor do grupo de economia da transição com as forças políticas.
Em Brasília, Haddad falou com a imprensa e afirmou que a despesa do governo federal como proporção do PIB em 2023 não pode ser menor do que a deste ano, mas exige providências como uma reforma tributária e um novo arcabouço fiscal,.
Ele celebrou a aprovação da PEC da Transição no Senado, afirmando que o texto é uma solução política e que o governo eleito buscou o “conceito de neutralidade fiscal”.
O mercado reagiu à declaração do possível futuro ministro Haddad. Por volta de 16 horas o Ibovespa tinha queda de 1,36%, e operava com 107.576 pontos e o dólar apresentava ligeira alta de 0,02%, cotado a R$ 5,207.
De acordo com a Folha de S.Paulo, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou que o presidente eleito pode anunciar nomes do seu ministério nesta sexta (9). A diplomação de Lula está marcada para segunda-feira (12) no TSE.
Além dos possíveis ocupantes do futuro ministério, as atenções dos investidores estão divididas entre a decisão da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e o encaminhamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição para a Câmara dos Deputados em meio ao julgamento do orçamento secreto no Supremo Tribunal Federal (STF).
No Tesouro Direto, o dia é de alta nas taxas oferecidas pelos títulos públicos, movimento visto desde manhã. Isso ocorre após sessão de descompressão na curva de juros na véspera (7).
Às 15h23, o Tesouro Prefixado 2025 e entregava retorno de 13,05% ao ano, contra 12,98% na véspera.
Já entre os papéis atrelados à inflação, o juro real mais elevado era oferecido pelo Tesouro IPCA+2045, no valor de 6,24% ao ano, acima dos 6,20% vistos na sessão anterior.
“O mercado, que ontem estava otimista com a possibilidade de ‘desidratação’ da PEC da Transição no Senado, viu que isso não se confirmou e o resultado foi a dinâmica de aumento de juros durante toda manhã, que continua”, diz Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.
Ele cita também a possível nomeação do ex-ministro Fernando Haddad amanhã como o tema mais importante do mercado. “Além disso, na semana que vem teremos uma decisão importante do Fed, o Banco Central dos Estados Unidos, que pode diminuir o ritmo de alta, mas o reajuste dos juros deve continuar”.
Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (8):
Sobre o Copom, a avaliação de economistas ouvidos pelo InfoMoney é que o Comitê citou as preocupações com o risco fiscal de forma “suave”. Especialistas também alertaram que o BC não parece ter mostrado motivo suficiente para afirmar que uma alta de juros está por vir.
A postura mais serena ao manter a Selic em 13,75% ao ano foi vista como adequada por agentes de mercado, já que é preciso esperar pela tramitação da PEC da Transição. Ontem (7), o texto foi aprovado em dois turnos no plenário do Senado, sem alterações em relação à minuta que tinha sido acordada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Agora, o governo eleito corre contra o tempo para garantir que o texto – que prevê que os gastos extra teto fiquem em R$ 145 bilhões em 2023 e 2024 – seja aprovado até o dia 16 de dezembro.
Para além da PEC, as atenções se voltam para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro, que será apresentado amanhã (9) e que deve levar a novas calibragens nas projeções para a inflação deste ano. Dados de atividade também estão no foco com o volume de vendas no comércio varejista, que subiu 0,4% em outubro, acima do previsto pelo mercado.
Copom: Comitê foi sutil ao citar fiscal
A sutileza foi a estratégia adotada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em seu comunicado para explicar a decisão de manter a taxa Selic em 13,75%, segundo a avaliação de analistas e economistas. A introdução da palavra “elevada” ao citar a incerteza em relação ao novo arcabouço fiscal e os estímulos fiscais adicionais pelo novo governo, além de uma ligeira piora nas projeções de inflação para 2022, 2023 e 2024, foram as “novidades” citadas.
Em entrevista ao InfoMoney, Adriana Dupita, economista para Brasil e Argentina da Bloomberg Economics, disse que esperava alguma recado até mais duro do Banco Central sobre a questão fiscal, levando em consideração os últimos comentários públicos do presidente Roberto Campos Neto. “A referência foi até sutil”, disse a economista.
Ela também não viu na elevação das projeções de inflação pelo colegiado do BC motivo suficiente para afirmar que uma alta de juros está por vir. A economista ainda acredita que os juros devem começar a cair no início do segundo semestre de 2023 e fechar o ano por volta de 11%. Isso se não acontecerem novas surpresas no campo fiscal, como uma elevação do crédito subsidiado.
Fabiano Zimmermann, gestor de renda fixa da ASA, também esperava um comunicado mais duro. Para ele, o BC poderia se comunicar elevando suas projeções de inflação ou na avaliação de seu balanço de risco.
Como não havia motivo técnico suficiente para mandar esse recado via projeções, uma vez que o petróleo e o câmbio atuais não permitiam tal mudança, “sobrou para o balanço de riscos”, disse em entrevista ao vivo no canal do InfoMoney no Youtube.
PEC da Transição e STF
Já na cena política, o plenário do Senado Federal aprovou ontem (7) o texto-base da (PEC) da Transição em dois turnos. A minuta recebeu 64 votos favoráveis nas duas votações (eram necessários 49). Votaram contra 16 senadores na primeira votação e 13 na segunda.
Com a conclusão da deliberação pelos senadores, a PEC é encaminhada à Câmara dos Deputados, onde também precisará ser submetida a dois turnos de votação em plenário, com exigência de apoio de 3/5 (ou seja, 308 votos entre os 513 integrantes da casa legislativa).
O relator preferiu manter o Bolsa Família no teto de gastos e adicionar R$ 145 bilhões aos limites previstos para a regra fiscal em 2023 e 2024. O texto aprovado também abre a possibilidade de um adicional de até R$ 23 bilhões em investimentos públicos em situações de “excesso de arrecadação”, tendo referência o comparativo entre o resultado obtido pelo governo e a projeção da peça orçamentária.
Como parâmetro, o texto estabelece que os valores não poderiam superar 6,5% da arrecadação superou as previsões da lei orçamentária em 2021. Inicialmente, a medida entraria em vigor apenas a partir de 2023, mas uma mudança no texto a partir do parecer do senador Alexandre Silveira abre a possibilidade de o instrumento ser usado ainda neste ano.
Destaque também para o STF, que adiou a decisão sobre o Orçamento Secreto e que voltará a analisar o caso apenas na próxima quarta-feira (14), o que embola a votação da PEC na Câmara. Deputados dizem querer esperar pela Corte antes de decidir se votam ou não em favor da proposta, discurso que soa como pressão entre petistas para que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anuncie logo quem terá espaço na Esplanada em 2023.
Vendas no varejo
Na cena econômica, o volume de vendas do comércio varejista no Brasil avançou 0,4% em outubro na comparação com setembro, em dados ajustados sazonalmente. No acumulado de 2022, o varejo registra alta de 1,0%.
Já nos últimos 12 meses, o setor acumula crescimento de 0,1%, voltando ao campo positivo pela primeiro vez em cinco meses. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nesta quinta-feira (8) pelo IBGE. Na comparação com outubro de 2021, houve alta de 2,7%.
O resultado mensal ficou pouco acima do esperado, uma vez que o consenso Refinitiv projetava alta de 0,3% na base mensal e de 2,3% na anual. A média móvel trimestral em outubro foi de +0,6%.
Recessão nos EUA e relaxamento das restrições na China
Enquanto isso, na cena externa, investidores avaliam o risco de uma desaceleração da economia global. Agentes do mercado esperam que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) eleve a taxa de juros em 50 pontos-base na próxima semana.
Embora um aumento desse nível caracterize uma desaceleração em relação as altas registradas nas reuniões anteriores, investidores estão cada vez mais preocupados se o banco central americano poderá evitar uma recessão no ano que vem em sua tentativa de controlar a inflação.
Destaque também para a China. Segundo agências internacionais, o País anunciou ontem (7) mudanças radicais na política de covid-19 zero imposta desde o começo da pandemia. Esse é o sinal mais claro e significativo de que o governo central está se afastando de sua abordagem restrita de Covid que provocou protestos em todo o país nas últimas semanas.
Em um comunicado divulgado pela emissora estatal CCTV, o Conselho de Estado da China revelou dez novas diretrizes para flexibilizar algumas restrições. As duas principais são a permissão da quarentena em casa e o fim do uso do QR code, que era obrigatório para entrar na maioria dos lugares públicos na China.
Fonte
www.infomoney.com.br