Recentemente, a Amazon anunciou a entrada no setor farmacêutico, com projeto de uma vacina contra o câncer. Embora muita gente tenha se surpreendido com o novo ramo de negócio, não é de hoje que a big tech tem criado braços em outros segmentos.
Um exemplo é de 2015, quando adquirir a fábrica israelense de chips Annapurna Labs por cerca de US$ 350 milhões. Isso deu à Amazon a possibilidade de criar seus próprios equipamentos e reduzir custos com os serviços de nuvem administrados pela AWS.
Mesmo distintos, todos esses movimentos têm um sentido comum: avançar sempre que houver um benefício claro. Essa estratégia ficou tão presente na história da empresa que até poderia ser usada como lema, indicam fontes internas ao portal Business Insider.
De certo, a preferência do conglomerado criado por Jeff Bezos é fundar seus próprios produtos internamente para atender as necessidades dos clientes.
No entanto, com o crescimento exponencial que registrou nos últimos anos, recorrer a soluções já existentes no mercado passou a ser uma opção para resolver possíveis problemas no menor tempo possível.
Para se ter ideia, até 2017, cada aquisição da Amazon não alcançava a cifra de US$ 1 bilhão. O ponto de virada foi a compra da rede de supermercados Whole Food, uma transação que envolveu US$ 13,7 bilhões, se tornando a maior conquista da marca. MGM (US$ 8,5 bi) e One Medical (US$ 3,9 bi) formam o pódio.
Especialista e consultor em fusões e aquisições, Oscar Malvessi explica que, embora pareçam valores altos, comprar empresas nesses preços começou a fazer sentido para alcançar o foco da Amazon “Oportunidades maiores começaram a florescer, especialmente pela visão de expansão internacional da marca”, diz ele, que é professor do Departamento de Finanças da Escola de Administração de Empresas de São Paulo curso na FGV (Fundação Getúlio Vargas).
Para fazer todas as captações, a Amazon tem dois critérios bem definidos: procurar ativos subvalorizados e fugir de guerras de lances. Ou seja, a empresa faz uma proposta de compra de marcas baratas -mas funcionais-, ao passo em que condiciona o fechamento do contrato a não disputar com outros interessados, conforme mostram documentos regulatórios.
Em alguns casos, não existe pressa em concluir a compra. No episódio da iRobot, companhia adquirida em agosto deste ano, o primeiro contato foi feito ainda em 2016, com a proposta de pagar US$ 60,59 por ação, valor considerado baixo pelos antigos sócios.
Mesmo assim, a Amazon fazia contato pelo menos uma vez ao ano com a fabricante de robôs aspiradores. A compra foi acertada, então, seis anos mais tarde, depois que a startup passou por uma série de problemas.
Cada ação da iRobot foi adquirida a US$ 61, preço que pode ser considerado um desconto em relação ao original, se considerada a inflação do período.
“Nesse período, a empresa [iRobot] pode não ter evoluído, mas continua tendo alguma coisa que interessou a Amazon. Se ela não conseguiu se valorizar, ela pode até ter um bom produto, mas o problema podia estar nas vendas”, avalia Malvessi.
18 anos liderando aquisições da Amazon
A tática de compras da Amazon é liderada por um executivo que está na empresa há 18 anos. O vice-presidente corporativo mundial Peter Krawiec é responsável por supervisionar aquisições, parcerias e investimentos.
Krawiec e seu time fizeram dela uma das corporações mais procuradas pelos potenciais vendedores, justamente pelo amplo e diversificado portfólio de negócios.
Soma-se a isso, disseram fontes da instituição ao Business Insider, o fato de que nem toda compra precisa passar pelo crivo da alta liderança da companhia. Isso daria mais celeridade e menos burocracia aos processos.
Todos esses acordos, porém, conforme pontua Malvessi, tem limites de responsabilidades bastantes definidos. “Até porque, mesmo que seja uma quantia baixa, o dinheiro precisa sair do caixa da empresa”.
Já para os negócios maiores, a Amazon mantém parceria com o banco Goldman Sachs, um dos principais dos Estados Unidos.
Dentro da instituição, Dave Eisman e Yasmine Coupal são os nomes que lideram os assuntos da big tech. Inclusive, ambos estiveram à frente das aquisições da Whole Foods e One Medical.
Há bastante interesse em tocar os negócios da Amazon pois eles são bastante lucrativos para os bancos, rendendo algumas dezenas de milhões em honorários. E esse lucro continua sendo alto, mesmo que, pelo seu tamanho, a empresa tenha a vantagem de pedir descontos em cima da taxa bancária tradicional.
“A Amazon está fazendo muitas aquisições, e já concluiu mais de 100. Com isso, ela amplia o leque de possibilidades e entra em negócios dos mais diferentes”, diz Malvessi. E finaliza: “É uma visão de longo prazo, para 10 anos. Há um objetivo de crescer mais que as concorrentes. Então, ela busca sempre se fortalecer”.
Fonte
www.infomoney.com.br